Hoje é-me impossível deixar de partilhar a tristeza para que esta época me conduz. É assim há muitos anos. Sei que isso acontece devido a acontecimentos passados que me marcaram e cujo impacto perdura. Mas este ano, em que pela primeira vez tive de viajar no dia de Natal para vir para Lisboa porque amanhã tenho que trabalhar e essa obrigação sobrepõe-se a quase tudo, senti uma tristeza infinita.

O chegar à cidade e percorrer as ruas desertas; o sentir que vinha ao encontro de pessoa nenhuma e de uma casa fria e fechada, entre tantas outras; o simples acto de me sentar ao balcão do único café aberto nesta noite onde ainda é suposto estar em casa; a solidão de tudo isto, simultaneamente, entristeceu-me e deixou-me insegura...

Hoje estou muito cansada e, por isso, será muito breve a minha incursão pela Internet.

Na verdade já há algum tempo que me sinto cansada, e em cada dia me sinto próxima do limite. Mas como isto acontece há muitos dias, mais correcto será dizer que cada dia atinjo o limite desse dia!

Hoje tenho pensado muito numa pessoa que foi importante para mim. E a conclusão é que é desolador quando enfrentamos a realidade que é, afinal, a distância, a falta de cumplicidade…

Será que é este o primeiro passo da libertação?!

Depois de um Dia Santo em que não trabalhei, preparo-me agora para mais um fim-de-semana. É mesmo isso: mais um. Neste fico por Lisboa e, como sempre, penso que devia descansar porque ando cansada. E, como sempre, já sei que não vou descansar. Já sei que vou pensar muito no que me rodeia, que vou sentir, como sempre, a injustiça de tantas coisas em meu redor e a minha impotência para mudá-las. Por vezes, a fonte da minha impotência é, simplesmente, a falta de meios, mas outras vezes é a falta de capacidade. A minha falta de capacidade para ajudar pessoas que precisam. Tenho trabalho, posso comprar o livro que em cada momento me agrada, comer uma refeição com o requinte que aprecio. Por tudo isso creio que, apesar de tudo, estou do lado dos privilegiados. E ainda não dei o meu contributo. Há tanta gente à espera enquanto praticamente me limito a levantar-me para trabalhar e voltar a descansar...

Apenas queria partilhar uma ideia, recorrente há bastante tempo, e que muito me tem feito pensar. Será, por hoje, um comentário breve, atenta a minha falta de tempo ou de resistência para aproveitar o tempo que ainda tenho...

Há muito que penso em como o circunstancialismo no âmbito do qual conhecemos alguém condiciona imenso o tipo de relação interpessoal que vamos ter com essa pessoa. Talvez o mesmo seja subscrever a ideia que o Dr. Francisco Allen Gomes exprime no seu livro "Paixão, Amor e Sexo", nos termos da qual o nosso contexto socio-económico condiciona bastante o tipo de relações que podemos ter. Certo. Concordo. E até posso conceder que isso nem sequer é muito doloroso se pensarmos que os próprios gostos são condicionados pelo meio, pelo ambiente e que, por isso, tendencialmente há um encontro de paixões, uma convergência de gostos, de interesses.

Tudo bem.

O problema é: e quando assim não acontece?

O que está errado?

Quando não nos interessamos propriamente pelas pessoas que connosco trabalham, que vivem perto, que frequentam os mesmos cafés, ou supermercados ou a mesma escola?

Quando nos interessamos por pessoas com quem nos cruzamos acidentalmente? Que não podemos encontrar facilmente?

Na maioria das vezes, isso acontece quando encontramos pessoas num contexto profissional, no âmbito do qual o relacionamento dificilmente será mais que estritamente profissional.

Mas também pode acontecer em outras circunstâncias, sendo que denominador comum é sempre a enorme dificuldade em conseguir falar mais um pouco, como se desejava, falar não, melhor diria, antes, conversar.

Pergunto: o que falha aqui?? Há um desfasamento entre a pessoa e o meio de que é oriunda? o que falha nesta pessoa? Incongruência natureza/interesses? Consciência de um mundo diferente, que sabe existir, onde gostaria de chegar sem que, contudo, isso seja possível?...

Um breve desabafo para me reportar àqueles compromissos que, depois de algumas desilusões, vamos firmando connosco próprios.

Não tenho a mínima dúvida que a maior culpada pelas grandes desilusões da minha vida, e subsequentes repercussões e reminiscências, sou eu própria. Quando o tempo nos ajuda a conquistar a tão necessária objectividade, percebemos isso claramente. Estas desilusões foram fruto de expectativas demasiado ambiciosas relativamente às pessoas.

Desilusão é a consequência de ilusão.

Dito de outra forma, é o regresso à realidade que durante algum tempo ignoramos e, quase sempre, numa segunda fase, optamos por ignorar. Quando já não temos muitas desculpas mas preferimos afastar o que se nos afigura como concreto e real mas doloroso.

É neste ponto em que me encontro.

É neste ponto que espero ter coragem para, doravante, cumprimr melhor os compromissos que vou fazendo comigo. Compromissos de diminuir expectativas, compromissos de não ir ao encontro de pessoas que claramente demonstram a sua indisponibilidade para conceder um minuto da sua atenção e que, por exemplo, respondem a um e-mail delicadamente, porque lá consideram que é deselegante não o fazer.

Pois, mas para mim, a resposta elegante é a deselegância suprema.

E muitas vezes me tenho confrontado com a discrepância entre o que as pessoas mostram e o que de facto são.

mas, mais que um desabafo, pretendo é dizer que creio que crescemos verdadeiramente quando o nosso auto-respeito faz com que, naturalmente, nos centremos em pessoas e coisas construtivas.

É essa vontade construtiva que sinto neste momento. E, talvez por isso, eu me sinta melhor.

Só com a angústia habitual de Segunda-Feira a aproximar-se...

Votos de boa semana a quem ler esta mensagem...

É, talvez, para dar mais força a este compromisso interior que começa a despontar dentro de mim que regresso.

Em tempos tive um blog, há muito tempo e com este título porque, na verdade, creio que define uma aspiração comum a muitas pessoas que criam os blogs e procuram os blogs de outras pessoas. Creio, na verdade, que é uma caminhada ao encontro de algo que todos gostaríamos muito: a possibilidade de conversar e aquele prazer indefinivel que se sente quando nos deparamos com as empatias que, no decurso do diálogo, se vão manifestando.

Deixei de escrever no outro blog e afastei-me da internet por muito tempo. Agora desejo reaproximar-me, paulatinamente, com o que sou hoje fruto de situações, entretanto vividas.

Situações que, no que considero um excelente sinal, se traduziram num crescendo de maturidade vivencial, com tudo o que isso implica, mas não diminuíram o desejo de comunicar, pois que o diálogo é o degelo da solidão.

Cada vez a facilidade dos meios ao nosso dispor permite fazê-lo mais facilmente e, não obstante, cada vez falamos mais e conversamos menos...

Espero que as minhas visitas a este blog, criado hoje mesmo, sejam frequentes...

E que seja também um espaço onde se possa falar do que se sente e se quer. De coisas importantes e também de outras que, aparentemente, possam parecer menos porque, no fundo, todas elas fazem parte da vida.

Este é o meu desejo...